Estava cansado de mais uma semana de trabalho, acordar cedo para dormir. Essa rotina entediante já tinha tomado boa parte da minha resistência ao álcool e eu precisava recuperá-la. Sexta à noite, um maço de cigarros, uma boa vodka, um telefonema. Os minutos seguintes são de aflição, até que a campainha toca. Em meio àquela fumaça rala e cancerosa vi uma salvação para meus vícios:
- Essa é sua casa?
-É onde eu durmo – respondi seco como minha garganta em busca da vodka
A noite acaba voando com muitas conversas que não vale à pena se citar. O fundo daquela garrafa já denunciava o que estava por vir. Não houve misericórdia. Nada naquela mesa permaneceu intacto. Derrubei cada copo, o cinzeiro cheio de bitucas e um jarro com flores, a despi quase que ao mesmo tempo em que a arremessei na mesa. Arranhões, diria rachaduras, deixavam em carne viva a vontade dos desesperados. Os gritos acordavam até os deuses que estavam a descansar. Todos pararam para ver aquela cena, o mundo viu que não tinha farsa. E só então acabou.
O Sol já nascia quando a endorfina ainda tomava conta. O álcool misturado com a nicotina também fazia seu trabalho. O que sobrou para nós foi só a rouquidão e a troca de olhares.
Pisquei mais uma vez, acordei só. Procurei-a por toda a casa e não vi rastro da sua desordem. Nem as bitucas, nem a garrafa. Olhei o maldito calendário. Era segunda e foi tudo um sonho de domingo.
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