terça-feira, 22 de março de 2011

Reticências

Eu estou com medo de escrever e minha mãe achar que eu estou cortando os pulsos ou tocando fogo no quarto. Me parece que os adultos já estão enferrujados de sofrer e não conseguem ler uma lágrima. O texto é só um lenço. Eu posso assoar o nariz em palavras gastas e dar a elas sentido...

As palavras encontram o que está perdido e, na maioria das vezes, relembram o que eu queria esquecer. Relembram o que eu queria matar. Palavras ressuscitam o que elas mesmas quiseram enterrar...

As reticências são a certeza de que eu vou continuar a escrever...


"It's my freedom you can't take it from me!" - S.O.J.A.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Are you OK?

Eu devia ter feito psicologia. Eu sempre achei fascinante a idéia de desvendar a mente de loucos e pessoas sob efeito de substâncias alucinógenas. Eu odeio os especialistas que trabalham com esse tipo de problema e lidam como uma equação de matemática. Os loucos são quase gênios! Eles conseguem ver coisas que não existem, isso é quase telecinesia ao inverso. É lindo, não é para ser estudado, e sim, para ser admirado. Eu queria ser louco e ter desculpa para fazer metade das coisas que eu faço.

Lose your head, is good for your heart...

Are you ok, darling?
I'm fucking crazy priest.
This disease is incurable.
This is not a disease priest... Is a bless...

"Louco é quem me diz que não é feliz" - Mutantes

quinta-feira, 17 de março de 2011

parede de vidro

Estávamos ali já há algum tempo, escondendo nossos reais objetivos em meio a palavras sem sentido. Você tocou minha pele e eu senti uma palpitação. Suas mãos estavam estranhamente frias, e contrastaram com a minha pele extremamente quente. Alguma coisa se perdeu, afinal. Era hora de ir embora.

quarta-feira, 9 de março de 2011

avalanche

Eu nem tenho ainda dezoito anos completos!

Minha cabeça é tão cheia de parafernalhas que não sei como ninguém a notou pendendo prum lado. Sou bombardeada a todo tempo por rajadas de pensamentos que se entrelaçam e se entrelaçam... sinto as minhas bochechas ferverem. Devo estar ficando louca. Até antes de dormir tudo fica fazendo muito barulho, uma voz que parece minha fala demais.

Por isso deixo tais pensamentos ultrapassarem as paredes do crânio. Vão logo conhecer o mundo, meus filhos! E tagarelo sem parar, sobre vários assuntos, às vezes sem nenhum embasamento lógico. É que fico sufocada, tudo está borbulhando dentro de mim, será que você não entende? Eu preciso te falar! Agora! Por que é tão difícil?

Minha cabeça está pesada, meus movimentos limitados, que coisa estranha esse frio na barriga, por que esqueci o discurso há tanto tempo ensaiado? E agora o silêncio que machuca demais. Alguém jogou uma cortina muito pesada acima das nossas cabeças, e fica tudo tão denso, tão quieto. Eu nem sei chorar. Me dê logo um murro na boca pra ver se o sangue escorre num filete juntos com as palavras certas! Não, não dê, vou dar primeiro.

Ainda o silêncio.

Olho pela janela e tem um velhinho dedilhando seu violão, acompanhando a melodia com uma voz macia e suave [aquele jeitinho bem sussurado, à João Gilberto]. Ele não me parece preocupado com a inexorável Morte, nem com a cor dos semáforos, nem com a agitação da cidade. Seus movimentos são contínuos, sem sobressaltos. Uma pontada de inveja me doeu bem na boca do estômago e meu coração palpitava.


Desci do carro dizendo que ia comprar uma bebida, mas eu fui ver o velho mais de perto e respirar bem fundo um pouco da sua calma.

sábado, 5 de março de 2011

Copos ao ar

Quatro. O número de pessoas naquela mesa e o cd do los hermanos que não parava de ecoar na minha cabeça. Cada rosto risonho e embriagado tinha sua música certa. Cantávamos heresias que fariam até meu amigo mais brega sentir vergonha de sentar conosco. Por mais que o bar olhasse pensando coisas sóbrias, a gente não ligava. Nós tínhamos até uma anã sóbria, o que deixava as coisas ainda mais estranhas.

A cerveja vinha congelada por fora e eu tentava descobrir figuras desenhadas no gelo retorcido. Talvez fosse só o álcool, mas eu acho que não. Fomos andando tentando desafiar as leis da ótica e vendo 4 pontos no infinito. Talvez fossem um só, mas eu acho que era o álcool. Ainda bem que tinha uma sóbria que não me deixa falar a verdade...

"Ver TV é deprimente, não há nada mais sem graça
Bom de noite é ir para a rua
Mesmo quando está chovendo
Eu que nunca me arrependo
Tá errado, eu tô fazendo
Vai saber o que é normal...
Eu só posso lhe dizer
BOM É QUANDO FAZ MAL!" Matanza

quinta-feira, 3 de março de 2011

Fire burns

Risquei o isqueiro, a chama iluminou o quarto. Esperaria ela acabar, mas se depender da vontade do pavio... eu ia queimar. Se dependesse da minha vontade eu iria queimar. Eu estou ouvindo um rap. Tentando lembrar que existe alguém mais fudido do que eu. Eu não consigo nem chorar. Desabafar com quem? Nem o copo com gelo faz a garganta arder mais...

O ócio tem consumido meus dias. Junto com ele vem lembranças, quase sempre devastadoras, quase sempre grilhões me prendendo ao acabado. Dizem que o amor é um sentimento abstrado... Para mim ele é mais presente que o calor que o isqueiro produz. Mais leve que o fogo e tão perceptível quanto ele. "O amor é fogo que arde sem se ver..." Camões era foda mesmo. A parada queima brother.

Licença que eu estou procurando um extintor...

"Perdoem o imperfeito, sacrifiquem sua perfeição em prol da felicidade de quem morre na praia..." Victor Allan