segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Retirante

Essa eu escrevi a uns tempos...

''Oh Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair, cair sem parar
Oh Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso que o sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há''


Essa vai para todos que já viram perecer
Sua família e nada puderam fazer
Aqueles que de água só sabem o básico
Porque quando ela cai eles se molham rápido


Pelas rachaduras a água escorre
Como a vida de milhares que morrem
Os que poupam o choro para água poupar
São os mesmo que fogem de toda a miséria


Enquanto nós tomamos nosso banho
A pele deles coça e as doenças vão se propagando
A falta de água só faz piorar
A peste negra que ja reinou na Europa,
E agora veio para cá
O calor que rasga a pele, só piora
Enquanto aqui o ar-condicionado te gela
A semente tá jogada só falta regar
E você achando que a torneira abertar não vai influenciar...


Viram retirantes, adquirem sequelas
E se alastram nas favelas
E não conseguem mais voltar
E perecem não de sede
Mas a mercer da chuva de bala
Recorrem as ruas, começam a roubar
E a história se repete,
Se der sorte morre antes de ir para o inferno
E o retirante se despede...


Essa é a vida do sertanejo
Menos poética do que a TV mostra
Mais dura do que essas rimas de bosta
O pior dos problemas não é a falta de água
É o latifúndio plantado ao lado, que mostra
A torneira da desigualde que escorre água
Da mais cristalina e cara
Que custou a vida de milhares de sertanejos
Que ficaram a penar, com os calos
Os filhos e os talos
Que nunca germinaram e nunca germinarão

0 comentários:

Postar um comentário