terça-feira, 21 de setembro de 2010

festival

Ninguém me avisou que aquela centopeia que engoli tinha pregos nos sapatos, e ainda por cima, era sambista. Na alta madrugada fui pega de surpresa pela sua dança e até achei que ela tinha se multiplicado dentro de mim. Por favor, pare com isso! Meu baixo ventre não é lugar! Malditos sapatos.


Tentei de todas as formas deixá-la confortável, mas nenhuma posição a satisfazia. Acho que me tesava. Fui obrigada a me habituar porque não tinha remédio. Enquanto isso, os raios de sol dissolviam a escuridão do céu meio turvo, e a umidade adentrava o meu quarto e o meu corpo sem pudor.


Descobri sozinha que a centopeia cuspia fogo e não engolia de volta. Tampouco parava de sambar. Seria um belo espetáculo se o palco não fosse as minhas entranhas, e se a plateia não fosse invejosa. Digo invejosa porque alguns indivíduos não se contentaram em assistir e resolveram entrar no clima! Aquela lesma de outro dia passeava despreocupada pelo meu estômago. Pesada demais, grudenta demais. Alguém tire ela daqui! Já estou ficando verde.


Quero ajuda sim, por favor e muito rápido, acho que tem uma cobra também. Ela enroscou meu fígado e pretende explodí-lo, eu vi. Olhe pra mim agora, meus lábios estão sem cor.
- Deseja alguma coisa?
- Um copo de água e uma mão fria, por favor. Vou vomitar.

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