quarta-feira, 9 de março de 2011

avalanche

Eu nem tenho ainda dezoito anos completos!

Minha cabeça é tão cheia de parafernalhas que não sei como ninguém a notou pendendo prum lado. Sou bombardeada a todo tempo por rajadas de pensamentos que se entrelaçam e se entrelaçam... sinto as minhas bochechas ferverem. Devo estar ficando louca. Até antes de dormir tudo fica fazendo muito barulho, uma voz que parece minha fala demais.

Por isso deixo tais pensamentos ultrapassarem as paredes do crânio. Vão logo conhecer o mundo, meus filhos! E tagarelo sem parar, sobre vários assuntos, às vezes sem nenhum embasamento lógico. É que fico sufocada, tudo está borbulhando dentro de mim, será que você não entende? Eu preciso te falar! Agora! Por que é tão difícil?

Minha cabeça está pesada, meus movimentos limitados, que coisa estranha esse frio na barriga, por que esqueci o discurso há tanto tempo ensaiado? E agora o silêncio que machuca demais. Alguém jogou uma cortina muito pesada acima das nossas cabeças, e fica tudo tão denso, tão quieto. Eu nem sei chorar. Me dê logo um murro na boca pra ver se o sangue escorre num filete juntos com as palavras certas! Não, não dê, vou dar primeiro.

Ainda o silêncio.

Olho pela janela e tem um velhinho dedilhando seu violão, acompanhando a melodia com uma voz macia e suave [aquele jeitinho bem sussurado, à João Gilberto]. Ele não me parece preocupado com a inexorável Morte, nem com a cor dos semáforos, nem com a agitação da cidade. Seus movimentos são contínuos, sem sobressaltos. Uma pontada de inveja me doeu bem na boca do estômago e meu coração palpitava.


Desci do carro dizendo que ia comprar uma bebida, mas eu fui ver o velho mais de perto e respirar bem fundo um pouco da sua calma.

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