Filosofava em uma cadeira com o encosto quebrado, fazendo a coluna transpirar. Pensava na formula do texto perfeito. A metaliguística pura e aplicada. No seu pensamento de texto perfeito, todo bom texto tinha que ter um final impactante.
Tinha acabado de escrever sua biografia. Não pensava em nenhum final perfeito. Aí então ele se matou, o final mais que perfeito. O problema é que ninguém teve a decência de escrever por ele...
As histórias das semi-vidas de uma pseudo-bailarina e de um pseudo-bêbado. Quando conseguem abrir bem os olhos, veem arte nessa cidade burocrática e hipócrita. grite mais!
terça-feira, 30 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
1º
É minha parceira a gente ficou em primeiro. A cerveja parece mais gelada, o sorriso mais sincero, mas na verdade ainda tem gente que não passou. Tem gente que nem liga para a UNIT (inclusive eu). Tem gente que deu parabéns desafiando a gente a repetir o feito na UFS. Tem gente que não pode rir. Tem gente que sabe que não vai passar na UFS e não tem dinheiro para cursar outra faculdade.
Pensando por esse lado ficar em primeiro nem é tão legal assim...
Pensando por esse lado ficar em primeiro nem é tão legal assim...
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Ela
Não tente decifrá-la, você não vai entendê-la. Não lhe pergunte por quê. Aliás, é melhor você não perguntar nada, a menos que não a olhe nos olhos. Você não vai querer olhá-la nos olhos. Aqueles olhos frios e sem fim, de poço amaldiçoado, que despertam curiosidade e pavor - ninguém jamais conseguiu se safar do magnetismo que eles exercem. Não os procure.
Ela é muito cordial, e procura avisar quando vai aparecer. O aviso geralmente vem em forma de energia muito densa, muito sufocante, que se concentra nos arredores da casa escolhida. Às vezes, uma coruja passa piando muito alto minutos antes dela chegar. Mas todos nós somos suscetíveis a imprevistos, não é mesmo? Com ela não é diferente: surge um novo compromisso que a faz desistir de aparecer.
Ela contorna os imprevistos com certa ansiedade, por isso fica meio estabanada. Esquece de avisar e já vai entrando na casa de outra pessoa, ou no carro, ou a aborda no meio da rua e a carrega sem a menor cerimônia. Nem lhe dá tempo de tirar no avesso aquela camisa, nem de consertar a resistência do chuveiro, de comer a última refeição preferida, ou de dizer "Adeus" ao porteiro do prédio. Tudo ficou fora do lugar, mesmo (estátuas). Essa é a sua face mais cruel e mal-educada.
Eu disse, antes, que não era pra você procurar aqueles olhos, mas tem gente por aí que é muito audaciosa. Vou, então, mudar um pouco o meu conselho e dizer pra você não ser igual a essa gente! Esse povo tem coragem de chamá-la pra jantar! E se ela não aparece, chamam de novo! Como pode? Até parece que eles não sabem que ela vai sempre chegar. Ela é muito ocupada, mas um dia ela chega.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Não é o cigarro, nem o álcool...
Me disseram que eu só escrevo sobre cigarros e alcool.
Mas fazer o que se não tenho dedos de violonista?
Não tenho um grande cérebro, não tenho alma de artista
Muito menos sei falar outra língua...
Não tenho muito dinheiro, mal uma carteira
Não tenho boas roupas, nenhuma que me caiba
Não tenho músculos e me sobra melanina...
É meu amigo, eu acho que o que me resta
São minhas histórias, meu alcool, meu cigarro e uma dose de café
(essa eu realmente espero que vocês tenham entendido)
Mas fazer o que se não tenho dedos de violonista?
Não tenho um grande cérebro, não tenho alma de artista
Muito menos sei falar outra língua...
Não tenho muito dinheiro, mal uma carteira
Não tenho boas roupas, nenhuma que me caiba
Não tenho músculos e me sobra melanina...
É meu amigo, eu acho que o que me resta
São minhas histórias, meu alcool, meu cigarro e uma dose de café
(essa eu realmente espero que vocês tenham entendido)
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
conversinha
Daí eu falei qualquer coisa sobre ele estar no hospital por causa de uma gripe forte, e escutei [juro que não esperava]:
- Você já foi lá pra conversar com ele?
Mas essas palavrinhas foram ditas com uma convicção tão profunda! Pareciam querer me advertir sobre o perigo de não dizer o que é preciso.
[Você diz o que é preciso?]
- Você já foi lá pra conversar com ele?
Mas essas palavrinhas foram ditas com uma convicção tão profunda! Pareciam querer me advertir sobre o perigo de não dizer o que é preciso.
[Você diz o que é preciso?]
sábado, 20 de novembro de 2010
Silêncio
O silêncio é medida de comprimento
Quantos silêncios um mendigo tem que percorrer
para fazer uma refeição?
Quantos silêncios são necessários
para me fazer pensar?
Quantos silêncios você já percorreu?
Mas, talvez, o pior silêncio seja
O silêncio que eu tenho que percorrer para chegar na tua boca...
Quantos silêncios um mendigo tem que percorrer
para fazer uma refeição?
Quantos silêncios são necessários
para me fazer pensar?
Quantos silêncios você já percorreu?
Mas, talvez, o pior silêncio seja
O silêncio que eu tenho que percorrer para chegar na tua boca...
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
desigualdade
Estava sentada no banco direito do carro e nem ouvia aquela música do rádio. Só xingava muito na mente por ter acordado cedo - como eu odeio acordar cedo! - e meus olhos passeavam pelo mundo fora da janela.
Então olhei pra calçada e um homem de pernas bem finas comia despreocupadamente seu biscoitinho água e sal com café. Ainda sentado em papelões que provavelmente lhe serviram de cama na noite passada, ele tinha aqueles olhos estranhos. Olhos de quem tem fome, mas já não sabe de quê. Olhos de quem quer sair dali, mas está cansado demais.
Será que sobra nele espaço pra uma crise existencial? Um monte de gente vive em crise existencial.
Pensei na minha cama macia, no meu banho quente, no meu café-da-manhã colorido e nas unidades de tempo que perco chorando na varanda. Tive vontade de dizer "Bom dia" pro homem, mas o semáforo ficou verde.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Finaly died
Minha vida tem ficado muito não-poética... A cidade tem ficado cada vez mais colorida e minha poesia é em tom de preto e branco. Eu parei de gostar da fumaça e passei a gostar mais do calor da tragada, do estalo do fumo queimando. Até o reggae que fazia minha janela vibrar hoje está mais para um dub roots.
I'm not changed. I have finaly died.
I'm not changed. I have finaly died.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
estátuas
- Doutor, eu tenho pânico quando vejo uma.
- Uma o que, meu filho?
- Estátua.
- E por que? Você acha que vai virar uma?
- Não doutor, eu tenho medo que os outros virem. Tenho pânico só em imaginar alguém congelado pra sempre, sem responder nunca mais. Tenho medo da morte, doutor, e não é da minha. [tenho medo, na verdade, daqueles olhos frios]
soldados
nossas meninas estão longe daqui
e de repente eu vi vc cair
não sei armar o que eu senti
não sei dizer se vi vc ali
quem vai saber o que vc sentiu?
quem vai saber o que vc pensou?
quem vai dizer agora eu que não fiz?
como explicar pra vc o que eu quis
-Legião Urbana-
[sei que Legião é super clichê, mas às vezes essa música passeia demais na minha mente]
e de repente eu vi vc cair
não sei armar o que eu senti
não sei dizer se vi vc ali
quem vai saber o que vc sentiu?
quem vai saber o que vc pensou?
quem vai dizer agora eu que não fiz?
como explicar pra vc o que eu quis
-Legião Urbana-
[sei que Legião é super clichê, mas às vezes essa música passeia demais na minha mente]
sábado, 13 de novembro de 2010
Reflexo
O Sol já nascia quando eu acendia o último cigarro da noite. Lembrava dos tempos em que aquilo era sinônimo de felicidade ou de sucesso expressados em propaganda. Hoje, degradação. Mas eu não ligo. Brincava com o reflexo do meu isqueiro. Fazia ecoar o riscado. Só entende quem já fez...
Não me entendam mal, mas eu já tenho que ir. The last cigarette is the best. I just smoke the last ones.
Não me entendam mal, mas eu já tenho que ir. The last cigarette is the best. I just smoke the last ones.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
amor
Bem no segundo que antecede o beijo, quando o tempo congela e depois derrete, ele me disse que eu tinha olhos de ressaca.
Mas não eram de cigana oblíqua e dissimulada.
Refletiam - bem no fundo - aquela garrafa e meia de vinho barato que bebi ontem.
Adeus, romance.
Mas não eram de cigana oblíqua e dissimulada.
Refletiam - bem no fundo - aquela garrafa e meia de vinho barato que bebi ontem.
Adeus, romance.
A miséria corre dos felizes
Eu costumava escrever sobre a sarjeta, os amigos que fiz nela... O meio fio, o meio do chão, o meio da rua. Eu estou feliz. Mais que merda! Eu parei de abraçar esses velhos amigos, parei de até de me suicidar! Eu acho que o meio fio sente falta das minhas gargalhadas forçadas que me faziam sentir dor de garganta no outro dia. O meio do chão sente falta do meu queixo roçando nas pedras quase acendendo meu cigarro. E o meio da rua... Ah! o meio da rua... Esse chora ao me ver passar sem dar-lhe ao menos um olá. O meio da rua que inúmeras vezes me viu dançando e gritando com uma garrafa na mão. O meio da rua que já me ajudou a voltar para casa tentando parar de se mexer para eu não cair...
Meus velhos amigos sentem minha falta... Que pena companheiros, a cachaça que um dia me fez rir perdeu para a carne e a palavra que insiste que eu me despeça de vocês...
"Me dá meu copo que já era!" - Vida loka - Racionais MC's
Meus velhos amigos sentem minha falta... Que pena companheiros, a cachaça que um dia me fez rir perdeu para a carne e a palavra que insiste que eu me despeça de vocês...
"Me dá meu copo que já era!" - Vida loka - Racionais MC's
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Preto e negro
Sem mais devaneios apresento-lhes meu vício
A censura fechou a porta
Olha que eu estava apenas no início
Do que um dia chamariam de obra-prima
Meu vício, sem lápis no olho
Roupa rasgada ou canto sujo
Meu vício, sem cigarros ou álcool
Meu vício sem declínio
Meu vício sem preto
Sem negro, sem tinto ou rosê
Meu vício simples e só você...
Você e seus vícios...
A censura fechou a porta
Olha que eu estava apenas no início
Do que um dia chamariam de obra-prima
Meu vício, sem lápis no olho
Roupa rasgada ou canto sujo
Meu vício, sem cigarros ou álcool
Meu vício sem declínio
Meu vício sem preto
Sem negro, sem tinto ou rosê
Meu vício simples e só você...
Você e seus vícios...
Freedom
Liberdade não se ganha, se tem...
Quando eu ainda era jovem minha mãe me disse para eu não decepcioná-la. Ela dizia que eu tinha conquistado a confiança e, consequentemente, a liberdade. Desculpa mãe, eu nasci livre. Eu não preciso ter liberdade. Ela está aqui dentro. Mesmo preso num quarto, trancado junto aos conservadores, eu tenho a mente livre. Eu não preciso voar para sair do chão...
Nada pode tirar minha liberdade... Eu escrevo, isso por si só já me dá asas... Se não tem caneta eu bebo!
Quando eu ainda era jovem minha mãe me disse para eu não decepcioná-la. Ela dizia que eu tinha conquistado a confiança e, consequentemente, a liberdade. Desculpa mãe, eu nasci livre. Eu não preciso ter liberdade. Ela está aqui dentro. Mesmo preso num quarto, trancado junto aos conservadores, eu tenho a mente livre. Eu não preciso voar para sair do chão...
Nada pode tirar minha liberdade... Eu escrevo, isso por si só já me dá asas... Se não tem caneta eu bebo!
Alegria
Andei de recesso. Minhas palavras esvairam-se aos muitos sorrisos que tenho dado. Talvez a alegria seja a tristeza tão grande que não me deixa escrever. É isso! A alegria é a mais profunda das tristezas... Por que mais choraríamos de alegria?
"Eu te dou meu coração como resgate
Aí ficamos em empate
Poderia me xingar, me bater, me difamar
Mas roubar o meu Blue Label foi pior que uma punhalada no peito..." Meu precioso -Vivendo do Ócio
"Eu te dou meu coração como resgate
Aí ficamos em empate
Poderia me xingar, me bater, me difamar
Mas roubar o meu Blue Label foi pior que uma punhalada no peito..." Meu precioso -Vivendo do Ócio
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
poeminha concreto na aula de matemática
zíper
raízes
prazer
zigue zague
ZzZzZzZzZ
raízes
prazer
zigue zague
ZzZzZzZzZ
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
decisão
Gustavo estava na fila do supermercado, esperando sua vez. Segurava uma caixa de hambúrgueres congelados, um pacote de pão e um pack de cervejas importadas. Era mais de meia-noite e ele podia muito bem pedir um sanduíche por telefone, mas as paredes daquele apartamento sufocavam-no. Precisava de ar fresco. É. Brisa da noite. É. Por isso foi andando.
De tempos em tempos, o número do painel eletrônico mudava indicando o caixa livre. Fazia um sonzinho irritante, mas não importava muito. Gustavo segurava forte uma das cervejas e fitava o nada sem piscar. Sentia suas pupilas dilatando e perdendo o foco, mas não queria piscar ainda, estava ocupado, estava pensando. Piscou. Era sua vez. O toque suave do senhor atrás dele o arrancou dos seus devaneios: "Rapaz! Sua vez!". Ah.
Pagou, mas não conseguia parar de pensar. Compro ou não compro? E foi ao banheiro porque lá dava pra viajar um pouco sem ser notado, daí podia tomar a decisão. Só queria dormir pesadamente, não precisava de muitos comprimidos. Compro ou não compro? Descansou a garrafa na pia, mas quando foi lavar as mãos, obviamente, derrubou-a. O brilho dos cacos de vidro era como ímã. Não piscou, só pegou um pedaço pontiagudo e perigoso e correu pra uma das cabines.
Sentou no vaso com a tampa fechada, fitando o objeto sedutor. Lexotan ou Rivotril? Teve vontade de cortar a palma da mão esquerda, como fizera acidentalmente quando criança. Lexotan? Ia cortar só um pouquinho, só uma dorzinha, nem queria sangue. Rivotril. É. Encostou a parte mais delicada do fragmento e nem doeu. Quase nem sangrou! Olhou pro pé e o cadarço estava desamarrado. Merda!
No mesmo segundo, desesperada, entra naquele ambiente com luz branca demais, uma menina chorante e ofegante. Ela deu um suspiro contido e nem sei se percebeu a portinha fechada. Sua angústia contrastava com a tristeza vazia do rapaz. Ele jogou o caco no lixo e enxugou as mãos na bermuda. Ouvia ela aspirar profundamente e coçar o nariz fungando alto. Levantou bem rápido, piscou várias vezes, sacudiu a cabeça, amarrou os sapatos e foi pra casa comer.
De tempos em tempos, o número do painel eletrônico mudava indicando o caixa livre. Fazia um sonzinho irritante, mas não importava muito. Gustavo segurava forte uma das cervejas e fitava o nada sem piscar. Sentia suas pupilas dilatando e perdendo o foco, mas não queria piscar ainda, estava ocupado, estava pensando. Piscou. Era sua vez. O toque suave do senhor atrás dele o arrancou dos seus devaneios: "Rapaz! Sua vez!". Ah.
Pagou, mas não conseguia parar de pensar. Compro ou não compro? E foi ao banheiro porque lá dava pra viajar um pouco sem ser notado, daí podia tomar a decisão. Só queria dormir pesadamente, não precisava de muitos comprimidos. Compro ou não compro? Descansou a garrafa na pia, mas quando foi lavar as mãos, obviamente, derrubou-a. O brilho dos cacos de vidro era como ímã. Não piscou, só pegou um pedaço pontiagudo e perigoso e correu pra uma das cabines.
Sentou no vaso com a tampa fechada, fitando o objeto sedutor. Lexotan ou Rivotril? Teve vontade de cortar a palma da mão esquerda, como fizera acidentalmente quando criança. Lexotan? Ia cortar só um pouquinho, só uma dorzinha, nem queria sangue. Rivotril. É. Encostou a parte mais delicada do fragmento e nem doeu. Quase nem sangrou! Olhou pro pé e o cadarço estava desamarrado. Merda!
No mesmo segundo, desesperada, entra naquele ambiente com luz branca demais, uma menina chorante e ofegante. Ela deu um suspiro contido e nem sei se percebeu a portinha fechada. Sua angústia contrastava com a tristeza vazia do rapaz. Ele jogou o caco no lixo e enxugou as mãos na bermuda. Ouvia ela aspirar profundamente e coçar o nariz fungando alto. Levantou bem rápido, piscou várias vezes, sacudiu a cabeça, amarrou os sapatos e foi pra casa comer.
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